Estudos Básicos de Umbanda

Conheça os fundamentos da nossa fé

Aqui você encontrará todo o conhecimento essencial sobre a Umbanda: história, teologia, Orixás, rituais e muito mais. Uma jornada de aprendizado espiritual.

Cronologia das Giras

O passo a passo dos trabalhos espirituais

Ao Chegar no Terreiro

Antes do início de qualquer gira, o filho da casa deve seguir este ritual de preparação:

1
Vestir a Roupa Ritual

Coloque suas roupas brancas apropriadas para o trabalho espiritual, demonstrando respeito e pureza.

2
Colocar as Guias

Vista suas guias (colares sagrados) que representam sua ligação com os Orixás e entidades.

3
Bater Cabeça para o Congá

Dirija-se ao Congá (altar sagrado) e bata cabeça, saudando os Orixás e pedindo licença para participar dos trabalhos.

4
Acender Vela no Cruzeiro

Acenda sua vela do Anjo da Guarda no cruzeiro das almas, firmando sua proteção espiritual para o trabalho.

Gira de Direita

Trabalhos com Caboclos, Pretos Velhos, Crianças, Baianos e demais entidades de luz

1

Introdução

Momento de concentração e silêncio. Os médiuns se posicionam na assistência ou na corrente, conforme orientação dos sacerdotes. É o momento de aquietar a mente e se conectar espiritualmente.

2

Defumação

O ambiente é purificado com ervas sagradas. A fumaça remove energias negativas e prepara o espaço para a manifestação espiritual. Todos os presentes são defumados, limpando suas auras.

🌿 Ervas comuns: arruda, guiné, alecrim, alfazema
3

Bater Cabeça para os Sacerdotes

Os médiuns da corrente batem cabeça para o Babalorixá e a Yalorixá, pedindo a bênção e demonstrando respeito à hierarquia sacerdotal. Este gesto reafirma o compromisso com a casa.

🙏 Gesto de humildade e reverência aos guias da casa
4

Saúda a Esquerda

Saudação aos Exus e Pombagiras guardiões da casa, pedindo proteção e segurança para os trabalhos. Mesmo na gira de direita, a esquerda é saudada pois são os guardiões que protegem o terreiro.

🛡️ Laroye Exu! Salve o Povo da Rua!
5

Hino da Umbanda

Canta-se o Hino da Umbanda, reafirmando a fé na religião e na força dos Orixás. É um momento de união e elevação espiritual de todos os presentes.

🎵 "Refletiu a luz divina, com todo seu esplendor..."
6

Abertura da Gira

Os sacerdotes realizam a abertura oficial dos trabalhos, firmando os pontos de força e invocando a proteção dos Orixás para que a gira transcorra em paz e harmonia.

7

Oração do Pai Nosso

Reza-se o Pai Nosso, oração universal que conecta todos os presentes à energia divina do Criador, Olorum. É um momento de profunda conexão espiritual.

✝️ Oração de conexão com o Pai Maior
8

Oração da Ave Maria

Reza-se a Ave Maria, honrando a energia feminina divina e as Yabás (Orixás femininas), especialmente Oxum e Iemanjá, mães protetoras de todos os filhos.

💙 Homenagem às energias femininas sagradas
9

Saúda e Canta para Oxalá

Oxalá, o Pai de todos os Orixás, é saudado com pontos cantados. Sua energia de paz, amor e harmonia envolve todo o terreiro, abençoando os trabalhos.

Epa Babá! Oxalá é o Pai!
10

Saúda e Canta para Omolu

Omolu, o Senhor da Terra e das Almas, é saudado. Sua presença traz cura, transformação e a bênção ancestral dos que já partiram. Ele é o médico espiritual.

Atoto Omolu! Atoto!
11

Saúda e Canta para o Orixá Regente

O Orixá que rege a gira do dia é saudado com seus pontos específicos. Cada dia da semana possui um Orixá regente que traz sua vibração particular aos trabalhos.

👑 Varia conforme o dia e a determinação da casa
12

Chamada dos Guias

Momento culminante da gira! Os pontos de chamada são cantados para que as entidades se manifestem nos médiuns. Caboclos, Pretos Velhos, Crianças, Baianos e outras entidades de luz descem para trabalhar em prol dos consulentes.

Início dos trabalhos de caridade e atendimento

Gira de Esquerda

Trabalhos com Exus e Pombagiras - Os guardiões e protetores

A Gira de Esquerda é dedicada aos Exus e Pombagiras, entidades que trabalham na linha de proteção, defesa e abertura de caminhos. São espíritos de luz que atuam nas demandas mais pesadas e na quebra de magias negativas.

1

Introdução

Momento de concentração e preparação espiritual. O ambiente é mais reservado, com iluminação reduzida (geralmente apenas velas). Os médiuns se preparam para receber as entidades da esquerda.

🕯️ Ambiente preparado com velas vermelhas e pretas
2

Abertura da Gira

Os sacerdotes realizam a abertura dos trabalhos, firmando os pontos de Exu e invocando a proteção do Exu Guardião da casa. É pedida licença aos guardiões para que os trabalhos se realizem em ordem e segurança.

🔥 Firma-se o ponto do Exu Chefe da Casa
3

Saúda Ogum

Ogum é saudado como o grande guerreiro e protetor. Ele é invocado para abrir os caminhos e garantir a segurança espiritual de todos durante a gira. Sua força é essencial para os trabalhos de esquerda.

⚔️ Ogunhê! Patakori Ogum!
4

O Sino da Igrejinha

Canta-se o ponto "O Sino da Igrejinha", marcando o início oficial da chamada dos guias de esquerda. Este é um dos pontos mais tradicionais e emocionantes da Umbanda.

"O sino da igrejinha faz belém-blem-blom...

Deu meia-noite, o galo já cantou...

Seu Exu que é dono da gira, ô corre gira que Ogum mandou!"

🔔 Início da manifestação dos Exus e Pombagiras

Observações Importantes

  • A gira de esquerda geralmente ocorre em horário noturno
  • É obrigatório o uso de roupas apropriadas (geralmente vermelho e preto)
  • Respeito absoluto às entidades que se manifestam
  • Proibido fotografar ou filmar sem autorização
  • Oferendas específicas são preparadas conforme orientação dos sacerdotes

História da Umbanda

A origem da religião que nasceu no Brasil

A Umbanda é uma religião genuinamente brasileira, nascida da miscigenação cultural e espiritual de nosso povo. Sua manifestação oficial ocorreu em 15 de novembro de 1908, na cidade de Niterói, Rio de Janeiro.

15 de Novembro de 1908

O Nascimento da Umbanda

Zélio Fernandino de Moraes, aos 17 anos, foi levado à Federação Espírita de Niterói por estar apresentando fenômenos mediúnicos. Durante a sessão, incorporou o Caboclo das Sete Encruzilhadas, que anunciou uma nova religião que acolheria a todos sem distinção.

1908

As Palavras do Caboclo

"Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã estarei na casa deste aparelho para dar início a um culto em que estes irmãos poderão dar suas mensagens e cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou."

16 de Novembro de 1908

Primeiro Terreiro

Na casa de Zélio, em São Gonçalo, foi fundada a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, o primeiro terreiro de Umbanda. A partir dali, a religião começou a se espalhar pelo Brasil.

Século XX

Expansão e Consolidação

A Umbanda cresceu e se diversificou em várias vertentes, mantendo seus princípios fundamentais de caridade, humildade e respeito a todas as forças espirituais que atuam para o bem da humanidade.

Hoje

Umbanda no Século XXI

Presente em todo o Brasil e em diversos países, a Umbanda continua sua missão de acolher a todos, promovendo a caridade, a cura espiritual e a evolução dos seres. Estima-se que existam milhões de adeptos no Brasil.

Zélio Fernandino de Moraes

Nascido em 10 de abril de 1891, Zélio foi o médium que serviu de instrumento para a manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Dedicou sua vida à Umbanda, fundando sete tendas e formando diversos sacerdotes. Desencarnou em 1975, deixando um legado espiritual que perdura até hoje.

Teologia e Cosmologia

A estrutura divina e os planos espirituais

Olorum / Zambi

O Deus Supremo

Na Umbanda, Olorum (ou Zambi) é o Deus Supremo, a fonte de toda criação. Ele é o princípio primeiro, inominável e inacessível diretamente. Manifesta-se através dos Orixás e das forças da natureza, delegando poderes para que a criação seja mantida e os seres evoluam.

Os Orixás

Manifestações Divinas

Os Orixás são manifestações da divindade, cada um regendo aspectos específicos da criação. Na Umbanda Sagrada, cultuamos 14 Orixás organizados em 7 Tronos Divinos, cada Trono com um Orixá masculino e um feminino.

As Entidades

Espíritos de Luz

As entidades são espíritos evoluídos que trabalham sob a égide dos Orixás. Caboclos, Pretos Velhos, Crianças, Baianos, Marinheiros, Ciganos, Boiadeiros e a Esquerda são linhas de trabalho que atuam na caridade e auxílio espiritual.

Lei do Karma

Causa e Efeito

A Umbanda compreende que toda ação gera uma reação. O karma não é castigo, mas aprendizado. Através das vidas sucessivas, o espírito tem oportunidade de reparar erros e evoluir em direção à luz.

Reencarnação

A Jornada da Alma

O espírito é imortal e passa por diversas encarnações para aprender e evoluir. Cada vida é uma oportunidade de crescimento, e a morte é apenas uma transição para outro plano de existência.

Planos Espirituais

As Dimensões

Aruanda: Plano superior onde habitam os Orixás e espíritos de alta luz.
Terra: Plano material de aprendizado e evolução.
Umbral: Plano inferior onde espíritos aguardam sua evolução.

Princípios Fundamentais

Os pilares que sustentam a fé umbandista

1

Existência de Deus

Crença em um Deus único, criador de tudo que existe, fonte de toda vida e amor.

2

Imortalidade da Alma

O espírito é eterno e sobrevive à morte do corpo físico, continuando sua jornada evolutiva.

3

Comunicabilidade dos Espíritos

Os espíritos podem se comunicar com os vivos através da mediunidade e da prece.

4

Pluralidade das Existências

O espírito reencarna várias vezes para evoluir, aprender e reparar seus erros.

5

Lei de Causa e Efeito

Toda ação gera uma reação correspondente que retorna ao seu autor, para aprendizado.

6

Prática da Caridade

O amor ao próximo manifestado em ações concretas de auxílio e amparo espiritual.

Os 7 Tronos da Umbanda

A estrutura divina que rege o universo espiritual

Na Teologia da Umbanda Sagrada, o Divino Criador manifestou-se através de 7 Tronos Divinos, cada um regendo um aspecto fundamental da criação. Cada Trono possui um par de Orixás - um masculino e um feminino - totalizando os 14 Orixás cultuados em nossa casa.

1

Trono da Fé

Responsável por despertar e sustentar a fé nos seres. É através da fé que nos conectamos com o divino.

Masculino Oxalá
Feminino Oya Tempo (Loguna)
2

Trono do Amor

Rege os sentimentos, emoções e relações afetivas. Desperta o amor em todas as suas formas.

Masculino Oxumarê
Feminino Oxum
3

Trono do Conhecimento

Rege a sabedoria, o aprendizado e a expansão da consciência.

Masculino Oxossi
Feminino Oba
4

Trono da Justiça

Rege o equilíbrio, a retidão e a aplicação das leis divinas.

Masculino Xangô
Feminino Oya Fogo (Egunita)
5

Trono da Lei

Rege a organização, a ordem e a execução das leis divinas.

Masculino Ogum
Feminino Oya (Iansã)
6

Trono da Evolução

Rege o crescimento espiritual, a transformação e a passagem entre os planos.

Masculino Obaluae
Feminino Nanã
7

Trono da Geração

Rege a criação da vida, a maternidade e a continuidade da existência.

Masculino Omolu
Feminino Iemanjá

Os 14 Orixás

Conheça cada Orixá, suas cores, velas e atribuições

Trono da Fé

Oxalá

O Pai de Todos os Orixás

Orixá maior, senhor da criação e da paz. Representa a fé pura, a bondade suprema e a luz divina.

Cores
Vela Branca
Dia Sexta-feira
Elemento Ar / Éter
Data 25 de dezembro
Epa Baba!
Trono da Fé

Oya Tempo

Loguna - Senhora do Tempo

Senhora do tempo e das estações. Rege os ciclos temporais e as mudanças climáticas.

Cores
Vela Branca e Azul
Dia Todos os dias
Elemento Ar / Tempo
Data 11 de agosto
Epa Hei Loguna!
Trono do Amor

Oxumarê

Senhor do Arco-Íris

Orixá do arco-íris, da renovação e do movimento contínuo. Representa a dualidade e a transformação.

Cores
Vela Verde e Amarela
Dia Terça-feira
Elemento Água / Fogo
Data 24 de agosto
Arroboboi!
Trono do Amor

Oxum

Rainha das Águas Doces

Orixá do amor, da fertilidade e das águas doces. Representa a beleza, a riqueza e a maternidade.

Cores
Vela Amarela
Dia Sábado
Elemento Água Doce
Data 12 de outubro
Ora Ye Ye O!
Trono do Conhecimento

Oxossi

Rei das Matas

Orixá das matas, da caça e do conhecimento. Representa a busca pelo saber e a fartura.

Cores
Vela Verde
Dia Quinta-feira
Elemento Matas / Terra
Data 20 de janeiro
Oke Aro!
Trono do Conhecimento

Oba

Guerreira das Águas Revoltas

Orixá guerreira, senhora das águas revoltas. Representa a força e a determinação.

Cores
Vela Marrom e Vermelha
Dia Quarta-feira
Elemento Águas Revoltas
Data 30 de maio
Oba Xire!
Trono da Justiça

Xangô

Senhor da Justiça e dos Raios

Orixá da justiça, dos raios e das pedreiras. Representa a equidade e a determinação.

Cores
Vela Marrom e Branca
Dia Quarta-feira
Elemento Fogo / Pedras
Data 29 de junho
Kao Kabiesile!
Trono da Justiça

Oya Fogo

Egunita - Senhora do Fogo

Senhora do fogo e das chamas purificadoras. Representa a purificação e a transformação.

Cores
Vela Laranja / Vermelha
Dia Terça-feira
Elemento Fogo
Data 4 de dezembro
Epa Hei Egunita!
Trono da Lei

Ogum

Senhor da Guerra e dos Caminhos

Orixá guerreiro, senhor dos caminhos, do ferro e da tecnologia. Representa a luta e a coragem.

Cores
Vela Azul Escuro
Dia Terça-feira
Elemento Ferro / Fogo
Data 23 de abril
Ogunhe!
Trono da Lei

Oya

Iansã - Senhora dos Ventos

Senhora dos ventos, das tempestades e dos raios. Representa a mudança e a transformação.

Cores
Vela Vermelha
Dia Quarta-feira
Elemento Ar / Vento
Data 4 de dezembro
Epa Hei Oya!
Trono da Evolução

Obaluae

Senhor da Terra e da Cura

Orixá da terra, da cura e das doenças. Médico dos Orixás, transforma dor em sabedoria.

Cores
Vela Branca e Preta
Dia Segunda-feira
Elemento Terra
Data 16 de agosto
Atoto!
Trono da Evolução

Nanã

Senhora da Lama Primordial

Orixá mais antiga, senhora da lama primordial. Representa a sabedoria ancestral e o renascimento.

Cores
Vela Roxa
Dia Terça-feira
Elemento Lama / Terra
Data 26 de julho
Saluba!
Trono da Geração

Omolu

Senhor das Almas e da Passagem

Orixá da passagem entre mundos, senhor das almas. Representa a transformação e a cura profunda.

Cores
Vela Preta e Branca
Dia Segunda-feira
Elemento Terra / Fogo
Data 2 de novembro
Atoto Omolu!
Trono da Geração

Iemanjá

Rainha do Mar

Grande mãe, rainha dos oceanos. Representa a maternidade, a família e a proteção incondicional.

Cores
Vela Azul Clara
Dia Sábado
Elemento Mar
Data 2 de fevereiro
Odoya!

Linhas de Trabalho

As entidades que trabalham em nossa casa

Esquerda (Exus e Pombagiras)

Guardiões da casa, responsáveis pela proteção, abertura de caminhos e defesa espiritual.

Guia Chefe Exu Lucifer

Pretos Velhos

Sábios conselheiros, portadores de imensa sabedoria e paciência. Trabalham com cura e aconselhamento.

Caboclos

Guerreiros das matas, portadores de força e coragem. Trabalham com cura e limpeza espiritual.

Erês / Crianças

Mensageiros da alegria, portadores de pureza e inocência. Trabalham com cura através da alegria.

Baianos

Mestres da sabedoria popular, alegres e festeiros. Trabalham com prosperidade e aconselhamento.

Marinheiros

Trabalhadores do mar, alegres e comunicativos. Trabalham com limpeza emocional e abertura de caminhos.

Ciganos

Mestres da magia e liberdade. Trabalham com amor, prosperidade e leitura do destino.

Boiadeiros

Trabalhadores do sertão, fortes e destemidos. Trabalham com descarrego e quebra de demandas.

A Linha dos Ciganos

Magia, sabedoria ancestral e a liberdade do povo cigano

Santa Sara Kali

Padroeira do Povo Cigano Celebrada em 24 e 25 de maio

A História de Santa Sara

Sara Kali, também conhecida como Sara, a Negra (em romani: Sara la Kali; em francês: Sara la noire), é venerada como santa pela tradição popular católica e reverenciada como a padroeira do povo cigano. O nome Sara, de origem hebraica, significa "princesa" ou "senhora", enquanto Kali vem do sânscrito e significa "negra", referindo-se à sua tez escura.

A primeira menção histórica sobre Sara Kali foi encontrada em um texto de 1521, escrito por Vincent Philippon, intitulado "A Lenda das Santas-Marias", cujas páginas manuscritas estão preservadas na biblioteca de Arles, na França.

Segundo a tradição, Sara vivia em Camargue, no sul da França, entre ciganos do clã Sinte. Uma das lendas conta que ela era uma sacerdotisa-iniciada nos elementos Terra, Água e Ar, vestindo-se de preto por esse motivo. Outra narrativa diz que ela acompanhou Maria Jacobina, Maria Salomé, Maria Madalena, Marta, Lázaro e Maximínio em uma fuga da perseguição romana aos cristãos por volta do ano 50 d.C.

Conta-se que foram lançados ao mar em um barco sem remos nem provisões. Sara teria rezado fervorosamente, prometendo que se chegassem a salvo, ela passaria o resto de seus dias com a cabeça coberta por um lenço. Após alcançarem as praias de Saintes-Maries-de-la-Mer, foram amparados por um grupo de ciganos, e Sara dedicou sua vida ao serviço espiritual.

O Culto a Santa Sara

Seu centro de culto é a cidade de Saintes-Maries-de-la-Mer, na França, onde anualmente, nos dias 24 e 25 de maio, ciganos de todo o mundo se reúnem para celebrá-la. Desde 1936, uma procissão leva sua estátua até o mar, onde ela é submersa até o meio do corpo em um ritual de devoção.

Sua imagem é coberta por lenços, sendo ela uma protetora da maternidade. Mulheres que não conseguem engravidar ou que pedem por um bom parto, ao terem seus pedidos atendidos, depositam aos seus pés um lenço em agradecimento. Centenas de lenços se acumulam aos seus pés como testemunho de sua intercessão.

Os Ciganos na Umbanda

Origem da Linha

A Linha dos Ciganos é relativamente recente na Umbanda, tendo se consolidado há pouco mais de 25 anos como uma linha de trabalho espiritual estruturada. Não há um fundador específico; ela surgiu espontaneamente em diversos terreiros espalhados pelo Brasil.

Os espíritos ciganos não se limitam apenas a quem teve uma encarnação cigana. A linha está associada a uma egrégora de prática da caridade, sob a regência maior de Mãe Oroiná, Orixá feminina do Trono da Justiça.

Características Espirituais

A Linha dos Ciganos representa uma força espiritual encantadora, alegre e profundamente ligada à liberdade, à sabedoria ancestral e à celebração da vida. Não são Exus nem Orixás, mas entidades espirituais que atuam como guias, trazendo os mistérios do povo cigano e sua conexão com a magia e a natureza.

Trabalham na direita, sendo seres de luz que passaram por este mundo compreendendo profundamente a natureza humana, tornando-se importantes orientadores espirituais.

Trabalhos e Práticas

Os ciganos trabalham com as energias do Oriente, utilizando cristais, incensos, pedras energéticas, cores e os quatro elementos sagrados da natureza. Seu atendimento traz leveza e bálsamo para a alma, reavivando a cultura de liberdade no sentido mais prático.

A saudação ao Povo Cigano é "Optchá!" e "Alê Arriba!"

Oferendas

A oferenda para os Ciganos é uma festa! Eles gostam de beleza, fartura e alegria. Geralmente são feitas em campos abertos, perto de uma árvore frondosa, sob a luz da lua cheia ou crescente.

  • Bebidas: Vinhos doces, champanhe, sangria, chás
  • Alimentos: Frutas doces, doces finos, castanhas, nozes, pães, mel
  • Flores: Girassol, rosas brancas e champanhe, flores do campo
  • Aromas: Incensos de sândalo, jasmim, cravo, canela e mirra
  • Objetos: Baralho cigano, lenços coloridos, moedas, cristais, fitas

O Significado das Cores

As cores desempenham um papel central na espiritualidade cigana. Cada cor possui sua vibração e significado específico. Os ciganos preferem cores claras e vibrantes, evitando o preto, que representa luto em sua tradição.

Vermelho

Representa a paixão, energia vital, força, coragem e o amor intenso. Velas vermelhas são usadas para trabalhos de amor e vitalidade.

Amarelo / Dourado

Simboliza a prosperidade, abundância, inteligência, sucesso nos negócios e riqueza material e espiritual.

Laranja

Representa força mental, confiança, criatividade, entusiasmo, atratividade e empreendedorismo de sucesso.

Rosa

Simboliza o amor incondicional, a delicadeza, o romantismo, a ternura e os sentimentos puros do coração.

Verde

Representa a saúde, esperança, cura, renovação, equilíbrio e conexão com a natureza.

Azul

Simboliza a paz, espiritualidade, tranquilidade, harmonia, proteção e elevação espiritual.

Branco

Representa a pureza, paz, limpeza espiritual, proteção divina e conexão com o sagrado.

Vela 7 Cores

Combina todas as vibrações ciganas: vermelho, amarelo, azul, branco, rosa, verde e laranja. Traz alegria, prosperidade e amor.

Importante: Nunca se deve usar vela preta para os ciganos. O preto é cor de luto entre o povo cigano e não deve ser utilizado em seus trabalhos espirituais.

Hierarquia Sacerdotal

A estrutura organizacional do terreiro

1

Babalorixá / Ialorixá

Pai ou Mãe de Santo

Líder máximo do terreiro, responsável pela condução espiritual e administrativa da casa. Possui a autoridade final sobre todos os trabalhos, iniciação de médiuns e decisões do terreiro.

2

Pai-Pequeno / Mãe-Pequena

Auxiliar direto do Sacerdote

Braços direito e esquerdo do sacerdote. Auxiliam na condução dos trabalhos, orientam os médiuns mais novos e substituem o sacerdote em sua ausência.

3

Cambono

Auxiliar das Entidades

Responsável por auxiliar as entidades incorporadas durante os trabalhos. Fornece materiais, anota recados, cuida da segurança do médium e garante o bom andamento do atendimento.

4

Ogã

Tocador e Cantador

Responsável pelos atabaques e pontos cantados. O ogã é fundamental para manter a vibração espiritual durante as giras através da música sagrada. Possui profundo conhecimento dos pontos de cada linha.

5

Médium

Instrumento das Entidades

Pessoa que possui mediunidade desenvolvida e serve de instrumento para a manifestação das entidades. Deve zelar por sua saúde física, mental e espiritual.

6

Filho de Santo

Membro da Casa

Todo aquele que frequenta e pertence ao terreiro. Independente de ter ou não mediunidade, participa dos trabalhos, aprende os fundamentos e colabora com a casa.

Importante: A hierarquia na Umbanda existe para manter a ordem e o respeito. Todo filho de santo deve respeitar seus mais velhos de santo, seguir as orientações do sacerdote e zelar pelo bom funcionamento da casa.

Rituais e Práticas

Os trabalhos espirituais da Umbanda

A Gira

É o ritual principal da Umbanda, onde os médiuns incorporam as entidades para trabalhos de caridade. A gira possui uma estrutura definida:

  • Defumação inicial para limpeza do ambiente
  • Abertura com pontos cantados à Oxalá
  • Chamada das linhas de trabalho
  • Incorporação e atendimento ao público
  • Subida das entidades
  • Fechamento com orações

Defumação

Prática de purificação através da fumaça de ervas sagradas. Cada erva possui propriedades específicas:

  • Arruda: Proteção contra olho gordo
  • Guiné: Limpeza e descarrego
  • Alecrim: Abertura de caminhos
  • Alfazema: Paz e harmonia
  • Benjoim: Elevação espiritual

Passes e Descarregos

Práticas de cura e limpeza energética realizadas pelas entidades ou pelo sacerdote:

  • Passe: Imposição de mãos para equilíbrio energético
  • Descarrego: Remoção de energias negativas
  • Limpeza: Utilização de elementos para purificação

Banhos Rituais

Banhos preparados com ervas específicas para diversos fins:

  • Banho de descarga: Ervas amargas para limpeza
  • Banho de prosperidade: Ervas doces para atração
  • Banho de proteção: Ervas de defesa
  • Amaci: Banho de cabeça para fortalecimento mediúnico

Oferendas (Ebos)

Ofertas rituais aos Orixás e entidades como forma de agradecimento, pedido ou firmeza:

  • Cada Orixá tem preferências específicas
  • Devem ser preparadas com intenção e respeito
  • Entregues nos locais apropriados
  • Sempre com autorização do sacerdote

Pontos Cantados

Cânticos sagrados que invocam, homenageiam e despedem as entidades:

  • Ponto de chamada: Invoca a entidade
  • Ponto de trabalho: Durante o atendimento
  • Ponto de subida: Despede a entidade
  • Cada linha e entidade possui pontos próprios

Elementos Rituais

Os materiais sagrados utilizados nos trabalhos

Na Umbanda, diversos elementos da natureza são utilizados nos rituais. Cada um possui significado e finalidade específica, servindo como canal de energia para os trabalhos espirituais.

Água do Mar

Conectada à Iemanjá, utilizada para limpezas profundas e trabalhos de maternidade, proteção familiar e fertilidade.

Água do Rio

Conectada à Oxum, usada em trabalhos de amor, prosperidade, fertilidade e beleza. Traz a energia da água doce corrente.

Água da Cachoeira

Poderosa para purificação e limpeza espiritual. Carrega a força da queda d'água que remove negatividades.

Terra de Cemitério

Utilizada em trabalhos com a linha das Almas e Omolu. Representa a conexão ancestral e a transformação.

Pemba

Giz sagrado utilizado para riscar pontos no chão. Cada cor possui significado e é usada conforme a linha de trabalho.

Pólvora

Utilizada para defesa espiritual, quebra de demandas e trabalhos de descarrego pesado. Deve ser manuseada apenas por pessoas experientes.

Cachaça

Oferenda tradicional para Exus, Boiadeiros e algumas entidades. Também utilizada em defumações e descarregos.

Fumo e Cigarros

Utilizados por Pretos Velhos e outras entidades para limpeza energética e comunicação espiritual.

Fitas Coloridas

Representam os Orixás através de suas cores. Usadas em firmezas, oferendas e decoração ritual.

Frutas

Oferendas importantes para os Orixás. Cada divindade tem suas frutas preferidas que devem ser oferecidas frescas.

Ervas

Fundamentais para banhos, defumações e oferendas. Cada erva possui propriedades mágicas e medicinais específicas.

Velas

Representam a luz e a fé. Cada cor corresponde a um Orixá ou intenção específica no trabalho espiritual.

Pontos Riscados

A escrita sagrada da Umbanda

O que são os Pontos Riscados?

Os pontos riscados são símbolos gráficos sagrados traçados no chão ou em outros suportes durante os trabalhos de Umbanda. Eles funcionam como a "assinatura espiritual" das entidades e representam a conexão entre o plano material e o espiritual.

Finalidade

  • Identificar a entidade que está trabalhando
  • Firmar o trabalho espiritual
  • Criar um campo de força magnética
  • Abrir portais de comunicação espiritual
  • Proteger o ambiente e os presentes
  • Direcionar energias para objetivos específicos

Como são feitos

  • Riscados com pemba (giz sagrado) no chão
  • A cor da pemba varia conforme a linha
  • Traçados pela entidade incorporada
  • Seguem padrões específicos de cada linha
  • Podem ser feitos em pratos, velas ou papel
  • Sempre acompanhados de pontos cantados

Elementos dos Pontos

  • Setas: Direção, movimento, caminhos
  • Cruzes: Proteção, firmeza, fé
  • Círculos: Ciclos, eternidade, proteção
  • Estrelas: Luz, guia, orientação
  • Triângulos: Trindade, equilíbrio, força
  • Espirais: Evolução, movimento, energia

Importância Ritual

  • O ponto é sagrado e não deve ser pisado
  • Depois de firmado, tem força própria
  • Deve ser desfeito corretamente ao final
  • Cada entidade tem seu ponto característico
  • Representa o poder e a autoridade espiritual
  • É uma forma de comunicação entre planos

Observação: Os pontos riscados são sagrados e possuem poder real. Não devem ser reproduzidos de forma leviana ou sem conhecimento. Apenas entidades incorporadas ou sacerdotes autorizados devem riscar pontos durante os trabalhos.

Ética na Umbanda

Princípios morais e conduta do umbandista

Caridade Gratuita

A Umbanda é caridade. Todos os atendimentos espirituais devem ser realizados gratuitamente, sem cobrança de valores. "Dai de graça o que de graça recebestes" é um princípio fundamental. A cobrança por trabalhos espirituais é condenada.

Código Orbone

Conjunto de leis éticas que regem a conduta do umbandista. Inclui o respeito à hierarquia, a preservação dos segredos rituais, a prática da caridade e a busca constante pela evolução espiritual.

Conduta do Médium

  • Manter a higiene física e espiritual
  • Evitar excessos de qualquer natureza
  • Estudar e conhecer a doutrina
  • Respeitar os mais velhos de santo
  • Não fazer trabalhos sem autorização
  • Cultivar a humildade e a paciência

Respeito à Hierarquia

A Umbanda possui uma estrutura hierárquica que deve ser respeitada. O sacerdote é a autoridade máxima do terreiro e suas orientações devem ser seguidas. Os mais novos aprendem com os mais velhos de santo.

Segredo Ritualístico

Determinados conhecimentos e práticas são transmitidos apenas aos iniciados e no momento apropriado. O segredo não é exclusão, mas proteção tanto do conhecimento quanto daqueles que ainda não estão preparados.

Práticas Condenadas

  • Cobrar por trabalhos espirituais
  • Fazer mal a outrem
  • Usar a mediunidade para vaidade
  • Mentir em nome das entidades
  • Desrespeitar outras religiões
  • Revelar segredos rituais indevidamente
"Com Deus eu posso, sem Deus nada posso. Que Deus me dê forças para fazer o bem e vontade de trabalhar para a caridade."

Glossário Umbandista

Termos essenciais da Umbanda

Amaci
Banho de ervas sagradas na cabeça para fortalecimento mediúnico e conexão com o Orixá.
Axé
Força vital, energia sagrada. "Ter axé" significa ter força espiritual e poder de realização.
Cambone
Auxiliar que atende as entidades incorporadas, fornecendo materiais e anotando recados.
Congá
Altar sagrado do terreiro onde ficam as imagens dos Orixás, santos e elementos rituais.
Descarrego
Ritual de limpeza espiritual para remoção de energias negativas do corpo e aura.
Ebo
Oferenda ritual aos Orixás ou entidades, preparada com alimentos e elementos específicos.
Encosto
Espírito desencarnado que se aproxima de uma pessoa viva, causando perturbações.
Engira
Ritual onde entidades espirituais incorporam em médiuns para trabalhos de caridade.
Firmeza
Ponto de força energética criado através de elementos rituais para proteção ou trabalho.
Guia
Colar de contas sagrado que representa a ligação do médium com os Orixás e entidades.
Incorporação
Fenômeno mediúnico onde a entidade espiritual manifesta-se através do corpo do médium.
Ori
Cabeça, consciência. Representa a essência divina em cada pessoa, o EU superior.
Pemba
Giz sagrado utilizado para riscar pontos. Cada cor tem significado específico.
Ponto Cantado
Cântico sagrado que invoca, homenageia ou despede entidades espirituais.
Ponto Riscado
Símbolo gráfico sagrado que identifica e firma o trabalho de uma entidade.
Terreiro
Local sagrado onde se realizam os cultos e trabalhos espirituais da Umbanda.
Tronqueira
Local sagrado de firmeza dos Exus e Pombagiras, geralmente na entrada do terreiro.
Vibrar
Sentir a presença ou energia de um Orixá ou entidade espiritual.

Fundamentos da Casa

Princípios e regras que regem nosso terreiro

01

Autoridade Sacerdotal

O Sacerdote é a autoridade máxima do terreiro, responsável pela condução espiritual e pelos trabalhos da casa. Toda atividade espiritual — seja dentro ou fora do terreiro — realizada por filhos de santo deve ser previamente comunicada e autorizada. Esta orientação existe para garantir a proteção espiritual de todos e a harmonia dos trabalhos.

02

Guias Básicas Obrigatórias

Guia Cristal Transparente Transversal Guia da Casa de Oxalá
Guia Branca Leitosa Guia do Anjo da Guarda
03

Guias de Orixás e Entidades

Guias de Orixás e de guias espirituais devem ser permitidas pelo Sacerdote. Nenhum filho deve confeccionar ou usar guias sem a devida autorização.

04

Sem Sincretismo

A casa cultua Jesus Cristo e Nossa Senhora com todo respeito, porém não praticamos sincretismo. Oxalá é Oxalá e Jesus é Jesus - cada um com sua identidade própria.

05

Respeito à Hierarquia

A Umbanda possui hierarquia espiritual e terrena. Respeitar os mais velhos de santo, os sacerdotes e as entidades é fundamental.

06

Caridade e Humildade

A Umbanda é caridade. Todos os atendimentos e trabalhos espirituais são realizados com amor e dedicação, sem distinção de pessoas.

Nossos Sacerdotes

Os guias terrenos da nossa casa

Sacerdote Devanir e Sacerdotisa Mariana

Devanir Annovazzi Junior

Sacerdote

Responsável pela condução espiritual da casa, pelos trabalhos e pela orientação dos filhos de santo.

Mariana Rodrigues Annovazzi

Sacerdotisa

Corresponsável pela condução espiritual da casa, auxiliando nos trabalhos e na orientação dos filhos de santo.